Francisco Edilson Leite Pinto Junior
Professor, médico e escritor.
Comunico que estou morrendo! E agradeço a Deus que o meu fim se aproxima... Aliás, isso já deveria ter acontecido há tempos. Uma vez que eu já causei mais sofrimento na história da humanidade do que as duas grandes guerras juntas, mais do que todas as catástrofes naturais - tsunamis, desabamentos, incêndios, peste bubônica, etc. etc-, acontecidas até hoje...
Assim, a minha morte será um alívio! A minha morte será uma bênção! Por isso que eu sempre acreditei (e como é difícil ter consciência da sua própria miséria) que eu já deveria ter sido condenado a morte... Aliás, eu deveria ter sido um natimorto!
Não! Por favor, não me entendam como um defensor da cadeira elétrica, do paredão das ditaduras, do aborto, etc. etc. Longe de mim isso! Mas vocês hão de convir de que a minha morte só causará benefício. Por isso, vejo até que, mesmo antes do meu caixão descer ao túmulo, haverá um delírio coletivo! (e nem sei se vou ter direito a ser enterrado, pois vai que alguém resolva me recriar, pegar os meus restos mortais, meus genes e fazer vários clones meus... Ave Maria, só de pensar nisso me causa até um calafrio!).
A felicidade será tão grande que todas as pessoas sairão às ruas, se abraçarão umas as outras - ora chorando, ora sorrindo-, e tudo isso apenas por causa da minha morte. Soube até que no Brasil, onde “o brasileiro é um feriado”, será decretado 180 (ou 360? Agora fiquei em duvida!) dias de folia. A festa do carnaval, nem de longe, se comparará com as comemorações pela minha morte... Ah! Mas nem isso causará inveja aos carnavalescos, pois tenho certeza que todas as escolas de samba farão seus desfiles com um único enredo: “A morte da prova escrita!”.
Pois é, tenho ou não razão de me achar abominável?! Sou a PROVA ESCRITA, com direito as múltiplas escolhas, menos para os alunos: “Ou acerta ou não passa!”; Sou, muitas vezes, uma forma de ameaça: “Vai cair na prova!”; Sou o mecanismo utilizado agora para avaliar se uma universidade presta ou não, pode?!... Sou apenas páginas em branco, onde muitos professores, já cansados, acomodados e sem criatividade, colocam um monte de perguntas e, na maioria das vezes, com um único objetivo: avaliar a memória do pobre do aluno. Por isso eu suplico: procurem outra forma de avaliação... Procurem!
Ah! Quantas árvores não foram gastas por ano, por país, por escola, para testarem algo que Pavlov e Skinner já descobriram em seus laboratórios de experimentação, o reflexo condicionado. Pois não venham me dizer que - colocando quatro alternativas para o aluno decidir qual delas está correta-, vocês estão avaliando algo além da memória. E aí eu lhes pergunto (sem colocar nenhuma das alternativas estão corretas, como possibilidade de resposta, para vocês assinalarem): onde fica a avaliação da sensibilidade, do amor, das paixões, dos afetos, dos sonhos, do que há de verdadeiramente humano e tão necessário para formação de um profissional?!
Por isso, concordo e assino embaixo, do que escreveu Saint-Exupéry, no seu livro “Terra dos homens”: “O que me atormenta não é essa miséria na qual, afinal de contas, a gente se acomoda, como no ócio... o que me atormenta é MOZART assassinado, um pouco, em cada um desses homens”... Pois é! Através de mim - A prova escrita -, vocês, caros professores, estão dificultando, ou até mesmo evitando, a formação de várias gerações de Mozart, e o que é pior: nem se dão conta disso! E depois não adianta ficarem cobrando humanização dos pobres e sofridos alunos, que passam noites e noites decorando leis, fórmul as, cálculos, efeitos colaterais das drogas... Ah! E eu nem posso me lamentar, como fez o poeta Álvaro de Campos, uma das entidades de Fernando Pessoa: “Sou o intervalo entre o meu desejo e aquilo que os desejos dos outros fizeram de mim”, pois nem desejo eu tenho, a não ser a minha própria morte...
Certa vez, entrei no Google, para saber quem me inventou e não consegui nenhuma resposta. Sou tão miserável que ninguém quer assumir a minha paternidade. Quem me gerou; quem fez meu parto; quem me criou; quem me alimentou; quem se serviu de mim para esconder as suas fragilidades e suas deficiências, seus medos e sua sede de poder, deveriam também ter um julgamento tão cruel como eu estou fazendo agora de mim mesmo, pois vocês são os verdadeiros culpados pela imagem abominável que carrego em minhas costas. E se Atlas foi obrigado pelos deuses a sustentar os céus para sempre, eu sou um Atlas obrigado a sustentar um mundo de sofrimentos para esses jovens.
Mas, como disse, no inicio desse comunicado, esse sofrimento tem dia e hora marcada para acabar. Vou morrer em breve! Ta lá no livro “A física do futuro”, de Michio Kaku: “Hoje, podemos nos comunicar com a internet por intermédio de nossos computadores e telefones celulares. Mas, no futuro, a internet estará por toda parte – em telas na parede, em móveis, em cartazes e até em nossos óculos e lentes de contato. Quando piscarmos, estaremos on-line... Isso vai alterar o sistema educacional. No futuro, alunos prestando um exame final vão poder pesquisar silenciosamente as respostas na internet, via lentes de contato, o que será um óbvio problema para professores que costumam confiar na decoreba. Isto significa que, em vez disso, os educadores terão de enfati zar a capacidade de pensamento e raciocínio”...
Ah!!!!! Einstein tinha mesmo razão: “A imaginação é mais importante do que o conhecimento!”. Por isso: Viva a minha morte! Viva a minha morte!
P.S. Dedico este artigo a todos os meus alunos, como forma de pedir perdão pelo sofrimento que ainda causo a eles...
Professor, médico e escritor.
Comunico que estou morrendo! E agradeço a Deus que o meu fim se aproxima... Aliás, isso já deveria ter acontecido há tempos. Uma vez que eu já causei mais sofrimento na história da humanidade do que as duas grandes guerras juntas, mais do que todas as catástrofes naturais - tsunamis, desabamentos, incêndios, peste bubônica, etc. etc-, acontecidas até hoje...
Assim, a minha morte será um alívio! A minha morte será uma bênção! Por isso que eu sempre acreditei (e como é difícil ter consciência da sua própria miséria) que eu já deveria ter sido condenado a morte... Aliás, eu deveria ter sido um natimorto!
Não! Por favor, não me entendam como um defensor da cadeira elétrica, do paredão das ditaduras, do aborto, etc. etc. Longe de mim isso! Mas vocês hão de convir de que a minha morte só causará benefício. Por isso, vejo até que, mesmo antes do meu caixão descer ao túmulo, haverá um delírio coletivo! (e nem sei se vou ter direito a ser enterrado, pois vai que alguém resolva me recriar, pegar os meus restos mortais, meus genes e fazer vários clones meus... Ave Maria, só de pensar nisso me causa até um calafrio!).
A felicidade será tão grande que todas as pessoas sairão às ruas, se abraçarão umas as outras - ora chorando, ora sorrindo-, e tudo isso apenas por causa da minha morte. Soube até que no Brasil, onde “o brasileiro é um feriado”, será decretado 180 (ou 360? Agora fiquei em duvida!) dias de folia. A festa do carnaval, nem de longe, se comparará com as comemorações pela minha morte... Ah! Mas nem isso causará inveja aos carnavalescos, pois tenho certeza que todas as escolas de samba farão seus desfiles com um único enredo: “A morte da prova escrita!”.
Pois é, tenho ou não razão de me achar abominável?! Sou a PROVA ESCRITA, com direito as múltiplas escolhas, menos para os alunos: “Ou acerta ou não passa!”; Sou, muitas vezes, uma forma de ameaça: “Vai cair na prova!”; Sou o mecanismo utilizado agora para avaliar se uma universidade presta ou não, pode?!... Sou apenas páginas em branco, onde muitos professores, já cansados, acomodados e sem criatividade, colocam um monte de perguntas e, na maioria das vezes, com um único objetivo: avaliar a memória do pobre do aluno. Por isso eu suplico: procurem outra forma de avaliação... Procurem!
Ah! Quantas árvores não foram gastas por ano, por país, por escola, para testarem algo que Pavlov e Skinner já descobriram em seus laboratórios de experimentação, o reflexo condicionado. Pois não venham me dizer que - colocando quatro alternativas para o aluno decidir qual delas está correta-, vocês estão avaliando algo além da memória. E aí eu lhes pergunto (sem colocar nenhuma das alternativas estão corretas, como possibilidade de resposta, para vocês assinalarem): onde fica a avaliação da sensibilidade, do amor, das paixões, dos afetos, dos sonhos, do que há de verdadeiramente humano e tão necessário para formação de um profissional?!
Por isso, concordo e assino embaixo, do que escreveu Saint-Exupéry, no seu livro “Terra dos homens”: “O que me atormenta não é essa miséria na qual, afinal de contas, a gente se acomoda, como no ócio... o que me atormenta é MOZART assassinado, um pouco, em cada um desses homens”... Pois é! Através de mim - A prova escrita -, vocês, caros professores, estão dificultando, ou até mesmo evitando, a formação de várias gerações de Mozart, e o que é pior: nem se dão conta disso! E depois não adianta ficarem cobrando humanização dos pobres e sofridos alunos, que passam noites e noites decorando leis, fórmul as, cálculos, efeitos colaterais das drogas... Ah! E eu nem posso me lamentar, como fez o poeta Álvaro de Campos, uma das entidades de Fernando Pessoa: “Sou o intervalo entre o meu desejo e aquilo que os desejos dos outros fizeram de mim”, pois nem desejo eu tenho, a não ser a minha própria morte...
Certa vez, entrei no Google, para saber quem me inventou e não consegui nenhuma resposta. Sou tão miserável que ninguém quer assumir a minha paternidade. Quem me gerou; quem fez meu parto; quem me criou; quem me alimentou; quem se serviu de mim para esconder as suas fragilidades e suas deficiências, seus medos e sua sede de poder, deveriam também ter um julgamento tão cruel como eu estou fazendo agora de mim mesmo, pois vocês são os verdadeiros culpados pela imagem abominável que carrego em minhas costas. E se Atlas foi obrigado pelos deuses a sustentar os céus para sempre, eu sou um Atlas obrigado a sustentar um mundo de sofrimentos para esses jovens.
Mas, como disse, no inicio desse comunicado, esse sofrimento tem dia e hora marcada para acabar. Vou morrer em breve! Ta lá no livro “A física do futuro”, de Michio Kaku: “Hoje, podemos nos comunicar com a internet por intermédio de nossos computadores e telefones celulares. Mas, no futuro, a internet estará por toda parte – em telas na parede, em móveis, em cartazes e até em nossos óculos e lentes de contato. Quando piscarmos, estaremos on-line... Isso vai alterar o sistema educacional. No futuro, alunos prestando um exame final vão poder pesquisar silenciosamente as respostas na internet, via lentes de contato, o que será um óbvio problema para professores que costumam confiar na decoreba. Isto significa que, em vez disso, os educadores terão de enfati zar a capacidade de pensamento e raciocínio”...
Ah!!!!! Einstein tinha mesmo razão: “A imaginação é mais importante do que o conhecimento!”. Por isso: Viva a minha morte! Viva a minha morte!
P.S. Dedico este artigo a todos os meus alunos, como forma de pedir perdão pelo sofrimento que ainda causo a eles...
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