“Tudo que eu não invento é falso...”
(Manoel de Barros - Poeta)
Ser escritor tem dessas coisas, de repente, do nada, aparece na nossa frente uma cena, uma imagem, uma história... Em certa manhã, Hegel, filósofo alemão, entra na sala de aula carregando uma caixa de sapato debaixo do braço. E antes mesmo de algum aluno lhe perguntar espantado: “Professor, o que é isso?!”, ele logo explica: “Eis a VERDADE, caros alunos! E de onde vocês estiverem nesta sala, no máximo conseguirão enxergar apenas três lados dela. Portanto, acreditem: vocês nunca serão capazes de vê-la por inteiro!”.
Agora fica fácil de saber o porquê de a verdade vir da origem de três palavras: Aletheia, Veritas e Emunah... E acredito até que cada uma delas tentar explicar um dos lados das três meias-verdades que enxergamos... Assim, para os gregos antigos, a verdade era algo sempre relacionado com a visão, afinal Aletheia significava: não escondido, não oculto... mas, o danado é que se a verdade vem dos olhos, Saint-exupéry a nega dizendo: “Só se enxerga bem com o coração. O essencial é invisível aos olhos”. E como enxergar a verdade, se quase sempre temos um coração de pedra, ou pior: nem coração temos?!...
Ah! Vamos, então, tentar buscar a verdade através da palavra latina Veritas que significa: rigor ou exatidão entre o relatado e o ocorrido?! Ilusão passageira, não é mesmo?! Pois logo vem Cristo para desmentir os latinos quando afirma: “O mal é o que sai da boca do homem”. E ele tem razão. Pesquisa, cientificamente comprovada, relata que a cada 10 minutos, o homem mente três vezes... é claro que este trabalho não incluiu ninguém de Brasília... e eu nem quero saber de fazer o cálculo de quanto eu já menti desde que nasci. Por isso, discordo totalmente de Shakespeare que dizia: “A brevidade é alma da inteligência”. Não! A brevidade é a alma da honestidade, pois quanto menos eu falar, menos mentira eu vou di zer... O silêncio é mesmo a sabedoria dos sábios! (Ou seria: a sabedoria dos honestos?!).
Resta-nos agora recorrermos aos filhos de Israel para encontrarmos a verdade, através da palavra Emunah que significa: fé, confiança... Assim, a verdade é aquilo que eu acredito. Mas, o danado é que nem todo mundo torce pelo Atlético Mineiro, para ficar o dia todo: “Eu acredito! Eu acredito!”. E existem até alguns mineiros que não levam mesmo fé na sua crença. E aqui na nossa cidade temos um exemplo claro disso, que é o Deputado Fernando Mineiro, do PT: se ele - e o seu partido- tivessem botado fé na sua candidatura, o Prefeito de Natal, hoje, seria outro...
Mas mesmo o Emunah - não sendo 100% fiel à verdade -, eu (não sendo mineiro, e sim potiguar) acredito que existe um lado que Hegel poderia ter explorado mais: o lado de dentro da caixa... No filme Don Juan DeMarco, uma das passagens mais interessantes é quando o psiquiatra, interpretado por Marlon Brando, pergunta a freira e mãe de Don Juan: “A senhora traiu mesmo o seu marido?!”. E a resposta foi: “Doutor, a verdade está dentro do senhor!”.
Pois é caro leitor, acredite: a verdade é o que está dentro de cada um! Por isso, vou agora dizer as minhas verdades verdadeiras. E como eu sei que “as verdades são como as rosas e têm espinhos”, espero que ninguém fique chateado ou ferido com elas, já que elas são só as minhas, apenas as minhas verdades... Ah! E é através delas que eu consigo me libertar: “Conhecereis a verdade e a verdade vós libertará!”...
A minha primeira verdade verdadeira é que eu tenho sempre que acusar os políticos por tudo de ruim que me acontecer. Afinal, no dia da eleição, eles não entram comigo na cabine de votação, pegam o meu dedo à força e me obrigam a confirmar sempre e sempre o voto neles?! Não é assim?! Pois então, nada mais justo, deles pagarem o pato...
A minha segunda verdade verdadeira é que eu tenho mesmo de ser contra a vinda de médicos estrangeiros para o nosso país, afinal, vai que dá certo a medicina preventiva e aí como é que eu vou justificar a minha revolta pela falta de dinheiro na saúde?! Afinal, precisamos de mais e mais dinheiro, que se “perderão” nas licitações da compra de mais e mais ambulâncias para transferirmos mais e mais dos nossos doentes do interior, para os corredores abarrotados dos hospitais da capital... Aliás, por falar em ambulâncias, estão faltando sim, elas no Serviço de Atendimento Móvel às Urgências (SAMU). Pois, pelos meus modestos cálculos, deveríamos ter pelo menos uma ambulância em cada rua, ou melhor: uma ambulância em cada casa, pois assim, eu e meus amigos ficaríamos mais tranquilos para enchermos a cara de álcool, e depois dirigirmos as nossas motos a 1000 km/hora, para nos arrebentarmos no primeiro poste que encontrássemos pela frente... Afinal saúde não é um direito de TODOS e um DEVER do estado?! Por que não todos não pagarem a conta, minha e dos meus colegas, por esta irresponsabilidade solidária?!
A minha terceira verdade verdadeira é que estão faltando sim, leitos de UTI em todas as cidades. Acho até que deveríamos construir dois leitos de UTI por cada casa. Afinal, eu não tenho que colocar, MESMO SEM NENHUMA INDICAÇÃO, os meus pais para morrerem lá?! Já que eu não dei assistência a eles durante a vida toda, porque eu vou ficar cuidando deles na hora da sua morte?! Se, estão faltando leitos de UTI para os que verdadeiramente precisam: isso não é problema meu, pois saúde é um direito de TODOS e um DEVER do estado... e todos tem o dever de pagar pela minha saúde mental: o que os olhos não veem, o coração não sente, não é mesmo?!
A minha quarta verdade verdadeira é que, quando eu reprovar um aluno, a culpa será sempre dele: não estudou; não prestou atenção a aula... assim, ninguém vai descobrir que eu não fui capaz de estimulá-lo, que eu não fui capaz de ensiná-lo nada de significativo, nada de útil para mudar a vida dele e nem de ninguém da sua comunidade, pois eu só sei “ensinar” o que eu aprendi durante a minha pós graduação: “A influência da formação das nuvens no humor dos gafanhotos da Malásia”... Bem caro leitor, não preciso mais continuar dizendo as minhas verdades verdadeiras, pois vocês já perceberam que eu adoro mesmo é ver sempre o cisco no olho do meu vi zinho...
P.s. Espero que, em 10 minutos, vocês consigam ler este artigo, afinal preciso ficar só com três mentiras... Mas, se eu mentir muito caro leitor, nem vou ficar com tanto remorso, pois Mario Quintana já dizia: “A mentira é só uma verdade que se esqueceu de acontecer”, não é mesmo?!
Francisco Edilson Leite Pinto Junior– Professor, médico e escritor.
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