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quinta-feira, 13 de setembro de 2012

PARA QUE MEU PAI LEIA EM VIDA


Por Flávio Rezende*

            Não tenho dúvida nenhuma que alguns leitores vão me considerar doido com a leitura do presente “escrito”, como costumo descrever as coisas que produzo para jornais e sites da internet, além de publicar em livros.

            Não me incomodo, doido mesmo é o amor que sinto por meu pai, motivo deste atual “escrito” e, vou revelar logo de cara o motivo. Meu querido e amado pai já chegou à idade dos 88 anos e, está bem de saúde, mas, não preciso dizer que é uma idade bem avançada, o que pode leva-lo a um desencarne repentino, levando em conta ser meu amor já portador de diabetes, hipertensão, vários stents, marca-passo e ter entupimentos bem comprometedores e sérios.

            Por causa do exposto, muitas vezes me pego pensando no “escrito” que vou produzir quando o adeus for uma realidade, sempre imaginando se ele vai de alguma maneira ler o mesmo.

            Não gosto de hipocrisia e costumo ser bem objetivo em minhas coisas, por isso, revelo que a fé que tenho no espiritismo não é 100%, confesso que, quando penso se papai vai ou não ler o que escrevi para ele no pós-morte, sinto um vacilo e, admito que isso possa não acontecer de fato.

            Diante desta dúvida atroz, decidi escrever antes do desencarne, para ter a certeza que ele leu mesmo e, assim, não carregar esta dúvida eternamente. Antes de escrever, gostaria de declarar aqui que, todas aquelas coisas que muitos se arrependem de não terem feito aos entes queridos em vida, eu faço. Telefono para meus pais praticamente todos os dias, participo de partilhas diversas sem contestação e com alegria, levo para consultas, durmo no hospital, digo que amo, faço cartões nos dias especiais e, procuro ter uma conduta ética e moral aceitável em nosso contexto social, agradando assim o seu ser que não encontra no meu, problemas e desvios de conduta, que muitas vezes entristece e encurta a vida dos pais queridos e preocupados com a prole.

            Meu querido e amado pai, fique sabendo que não existe um fim, quando em sua jornada foram plantadas roseiras que exalarão eternamente o doce perfume dos bons valores na vida de todos aqueles que com ti tiveram profícuo contato.

            O choro inevitável é apenas o líquido que rega essas roseiras e, os soluços momentâneos, só revelam os terremotos interiores que nos sacodem nestes rituais de despedida tão difíceis, porem, culturais e necessários.

            Meu inesquecível e professor pai, essas roseiras que cultivou no jardim de sua existência são tão significativas para este filho que o ama tanto, que ao me aproximar de um grupo de dentistas, sentirei ali o perfume adocicado de sua valiosa contribuição a esta área, tendo sido o orador da primeira turma de Odontologia da UFRN, exercido vários cargos nas entidades classistas, recebido todas as honrarias locais e nacionais da profissão, além de ter uma sala em seu nome na sede da ABO/RN. O senhor nunca foi um dentista qualquer, foi no consultório um competente e elogiado profissional liberal, que extrapolou o conforto do lar e serviu a Odontologia sem ganhos extras, com muitas horas de serviço voluntário produtivo e eficaz.

            Meu estimado e correto pai, quando este seu neófito filho entrar numa agência qualquer do Banco do Brasil, sentirá o suave perfume de sua valiosa colaboração a esta entidade nacional, igualmente exercendo vários cargos dentro e fora do banco, tendo sido presidente e diretor da AABB, além de fundador da CASSI, entre outras valiosas colaborações que a categoria sabe e reconhece, dai as muitas placas e condecorações recebidas.

            Meu atuante e maravilhoso pai, quando este filho aprendiz observar as unidades militares da vida, poderá perceber no ar o forte cheiro do perfume que revela sua passagem por este setor da sociedade brasileira, sendo reverenciado em desfiles militares como dos últimos a compor a Força Expedicionária Brasileira, com o destaque de ter seu nome e foto dando nome a sala dos alunos do NPOR do 16º RI.

            Meu simpático e bem humorado pai, os melhores perfumes das mais badaladas roseiras vão estar ainda pairando na turma de hidroginástica do professor Milton na Praia do Forte, nas salas dos cinemas que frequentou com assiduidade de cinéfilo, nas reuniões diversas que participou em muitos momentos de sua vida, seja no prédio onde mora, no Lions, Rotary, Igreja Católica e, principalmente, nas confraternizações com seus filhos, todos nós loucos de amor e de paixão pelo senhor e por sua conduta moral, sua humildade, sua serenidade, sua prestimosidade.

            Sei que por ter o dom da escrita, teria eu a missão dessa confissão pública de amor, sabendo também ser porta-voz dos manos Júlio, Leila, Fernandinho, Lila e Jorge, pois, quando estamos nós a confabular as coisas da vida, é unanimidade o carinho que todos temos pelo senhor Fernando Rezende e por mamãe Miriam, dupla que nos trouxe ao mundo, para que de camarote pudéssemos assistir a uma verdadeira aula de amor aos filhos.

            Então pai, quando a hora chegar, chorar, soluçar será inevitável, mas, temporário, o que vai ficar mesmo, é esse perfume que o senhor exala e que nos torna cada vez mais felizes de termos encarnados em meio a um roseiral tão maravilhoso.

            De onde esteja, vendo tudo ou não, torça para que os espinhos que também estão presentes no roseiral afugentem todos os males que queiram por ventura, se aproximar.

            Seu perfume vai estar sempre por ai, doce e querido pai. Todos nós te amamos ad infinitum.

·              * É escritor, jornalista e ativista social em Natal/RN (escritorflaviorezende@gmail.com)

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