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quinta-feira, 27 de setembro de 2012

O incômodo das colunas sociais


Flávio Rezende
escritorflaviorezende@gmail.com

O jornalismo praticado no mundo inteiro é composto pelo que chamamos de editorias. Todos os veículos de comunicação são compartimentados em política, esporte, cultura, cidade, regional, internacional, nacional, sendo essas as principais, existindo subeditorias como saúde, moda, arquitetura, educação e muitos outros assuntos.

Conhecendo o ser humano como ele é os veículos de comunicação também adotam em suas páginas e/ou espaços televisivos e radiofônicos, a editoria ou subeditoria do social, que pode ser a simples exposição do que chamam de sociedade, aquele mundo das pessoas ricas e famosas, como também o social com informações gerais, o que vem sendo adotado na modernidade para que não caibam críticas mais contundentes ao trabalho jornalístico dos profissionais que seguem esta linha.

As colunas sociais são muito comuns e apreciadas, ao mesmo tempo em que são igualmente odiadas. Os apreciadores, obviamente, são as pessoas que aparecem, geralmente um seleto grupoque circula em sociedade, que adquire produtos em lojas badaladas e está sempre na lista vip dos hostess e dos organizadores de inaugurações e de novos empreendimentos classe A.

Os leitores dos jornais e telespectadores e/ou ouvintes das mídias rádio e tevê que não pertencem a este seleto grupo, seguem duas tendências. A dos que não se importam e adoram saber o que os ricos & famosos fazem, comem e vestem e, o grupo dos que acham tudo isso uma grande baboseira e, até uma agressão.

Estou escrevendo este artigo depois de abrir um jornal e observar uma coluna com muitas fotos de pessoas da sociedade, todas com o sorriso escancarado, esbanjando alegria e roupas belíssimas. Confesso que me senti um pouco mal, não sei se inveja, se despeito, sei lá, achei aquilo meio estranho, não sei dizer que tipo de sentimento realmente rolou, mas algo me incomodou com aquele entusiasmo todo de todo o grupo dividido em várias fotos.

Ai fiquei refletindo sobre meu ser. Eu também pertenço a este grupo, ganho bem, sou o que chamamde formador de opinião, recebo muitos convites, atendo alguns e, sempre, aonde chego, sou convocado para tirar muitas fotos, às vezes pelo fato de ser jornalista, em outros casos por ser diretor de bloco, pode ser pelo fato de ser presidente da Casa do Bem, tem ainda os que tiram fotos por eu ser escritor com muitos livros publicados, enfim, educadamente atendo todos os pedidos e, outra confissão, imprimo ao instante requerido, um sorriso que vai ficar eternizado na foto, muito superior ao real no momento do click.

A alegria que os leitores e/ou telespectadores observam em minha pessoa no instantâneo ou na reportagem da tevê, não é a real, é uma alegria um tom um pouco acima, então estou agora pensando, será que estou agindo corretamente? Essa alegria a mais que toma conta de todos na hora das fotos e das exposições midiáticas incomoda muitos verdadeiramente? Qual o motivo disso tudo? Eis um prato cheio para análises e reflexões pensamentais, filosóficas e sociológicas.

Certa vez li um colunista de generalidades, mas, que não aguenta esse lado social da mídia, escrever que não suporta essa hiper alegria da sociedade nas colunas sociais. Ele não está só, muitos pensam iguais e isto não tem solução, não tem remédio, para os que não gostam, o único jeito é não ler essas colunas, mas, outra confissão, sei que muitos que afirmam que não leem, leem sim, assim como muitos que dizem que não toleram os programas de tevê sobre crimes e atrocidades, às vezes assistem, até para formar opinião, dizem.

O réu confesso aqui está numa encruzilhada, posa para fotos, aparece mais sorridente que publicidade de pasta de dente, mas, também, vez por outra ao observar gente feliz demais em eventos, sente certo incômodo, o que será?

Flávio Rezende é escritor, jornalista e ativista social em Natal.

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