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quinta-feira, 25 de outubro de 2012

QUANDO ACABA A PACIÊNCIA...


Dizem que  aconteceu em Minas Gerais, em Ubá, cidade onde nasceu o genial Compositor Ary Barroso.
Na cidade  havia um senhor cujo apelido era Cabeçudo. Nascera com uma cabeça grande, dessas  cuja boina dá pra botar dentro, fácil, fácil, uma dúzia de laranjas. Mas fora  isso, era um cara pacato, bonachão e paciente.

Não gostava, é claro, de ser  chamado de Cabeçudo, mas desde os tempos do grupo escolar, tinha um chato que  não perdoava. Onde quer que o encontrasse, lhe dava um  tapa na cabeça e perguntava:

- Tudo bom, Cabeçudo?

O  Cabeçudo, já com seus quarenta e poucos anos, e o cara sempre zombando dele. Um dia,  depois do milésimo tapão na sua cabeça, o Cabeçudo  meteu a faca no zombeteiro e matou-o na  hora. A  família da vítima era rica; a do Cabeçudo, pobre. Não  houve jeito de encontrar um advogado para defendê-lo, pois o crime tinha muitas testemunhas.

Depois de apelarem para advogados de Minas e do Rio, sem sucesso algum, resolveram procurar um tal de 'Zé Caneado', advogado que há muito tempo deixara a profissão, pois, como o  próprio apelido indicava, vivia de porre. Pois  não é que o 'Zé Caneado' aceitou o caso?

Passou a semana anterior ao julgamento sem botar uma gota de cachaça na boca! Na hora  de defender o Cabeçudo, ele começou a sua peroração  assim:

- Meritíssimo juiz, honrado promotor, dignos membros do  júri.

Quando  todo mundo pensou que ele ia continuar a defesa, ele  repetiu:

- Meritíssimo juiz, honrado promotor, dignos membros do  júri.

Repetiu  a frase mais uma vez e foi advertido pelo  juiz:

- Peço  ao advogado que, por favor, inicie a  defesa.

Zé  Caneado, porém, fingiu que não ouviu  e disse:

-  Meritíssimo juiz, honrado promotor, dignos membros do  júri.

E o  promotor:

- A  defesa está tentando ridicularizar esta corte!

O  juiz:

-  Advirto ao advogado de defesa que se não apresentar imediatamente os seus  argumentos...

Foi  cortado por Zé Caneado, que repetiu:

-  Meritíssimo juiz, honrado promotor, dignos membros do  júri.

O juiz  não aguentou:

- Seu  moleque safado, seu bêbado irresponsável, está pensando que a justiça é motivo  de zombaria? Ponha-se daqui para fora antes que eu  mande prendê-lo.

Foi  então que o Zé Caneado disse:

-Senhoras e Senhores jurados, esta Côrte chegou ao ponto em que eu queria chegar... Vejam que, se apenas por repetir algumas vezes que o Juiz é meritíssimo, que o Promotor é  honrado e que os Membros do Júri são dignos, todos perderam a paciência, consideram-se ofendidos e me ameaçam de prisão...

Pensem então na situação deste pobre homem, que durante quarenta anos, todos os dias da sua vida, após levar um tapão na cabeça, foi chamado de Cabeçudo!... Sempre pela mesma pessoa...

Cabeçudo foi absolvido e o Zé voltou a tomar suas cachaças  em paz.

(Autor desconhecido / circula na Internet)

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