Por Leonardo Sodré
Jornalista e escritor
Uma boa pescaria começa no planejamento. No nosso caso, os planos e horários começaram na sexta-feira, 12 de outubro, na varanda de nossa casa, na praia da Barreta, como uns insistem, mas que Mercinha diz ser Barra Pequena. Ela tem razão. Mas, voltando à véspera da história, meia com “H” maiúsculo e meia com ele minúsculo, deixamos todos os detalhes prontos para o dia seguinte: o sábado.
O professor Eduardo Farias (Dudu), pescador de grandes feitos em muitos costados por esse mundo afora e Mário Henrique de Farias, seu pai e meu amigo de muitas mesas, combinaram comigo, Mércia e Lucina (o amorzinho e encanto do seu pai), a pescaria histórica do feriadão, depois que passei quase três meses fazendo política no interior. Exultei! Finalmente iria inaugurar o molinete supimpa que havia comprado – por meio de um amigo – em Miami. Aliás, esse molinete que tinha selo de fabricado no Vietnã somente durou duas pescarias. Fui fisgado!
Quase às 23h, depois de umas duas doses e meia de rum, já havíamos combinado tudo, separado o material de pesca, escolhido os camarões para as iscas e Dudu foi embora para Tabatinga, onde estava instalado com a esposa, para nos pegar por volta das 08h, para irmos pegar o almoço – quero dizer, os peixes - almejado por Mércia, em Malembá. Fomos embora. Dudu, como o pai, é pontual.
Fomos eu, Dudu, Lucina e Mário Henrique. Logo na chegada Mário notou que o Jeep Toyota de Dudu não tinha aparelho de som. O bicho é possante, mas não tem, sequer, um rádio AM. Aí, Mário cochichou no meu ouvido:
- Léo, desse jeito vai ser difícil a gente pegar um peixe...
Preparamos o material e mandamos ver. Praticamente arremessamos as linhas de uma vez só. Aí, abrimos as primeiras cervejas e ficamos a espera dos peixes que serviriam para reforçar almoço do sábado. Eu estava perto do Jeep quando Lucina disse:
- Léo, acabei de ver um peixe enorme sair de dentro da água... Levou uns trinta segundos somente para passar as costas. Era preto, Léo, enorme!
Diante de minha grande experiência com peixes e para parecer mais entendido ainda (de peixes) disse que poderia ser uma Cavala da cabeça ovalada. Não sei se vi o se sonhei que existia esse peixe, mas estava mais do que convicto. Mas, não tive tempo de continuar a conversa com Lucina porque a minha vara deu um puxão tão grande que tive que correr e me agarrar com ela. Devia ser o peixe que Lucina tinha visto. Ele saiu me puxando para dentro da água e Dudu correu para me ajudar. Segurou-me, mas o peixe continuava puxando, até Mário Henrique segurar Dudu e sermos arrastados até quase o pescoço.
Perdi o peixe. Ganhei a vida! E, todos nós saímos incólumes do episódio. Mário e Dudu exaustos, a ponta de minha vara quebrada. Claro, que tivemos que renovar a rodada de cervejas, mas continuamos a pescaria. Agora eu usava uma vara emprestada por Dudu.
Como existem coisas que somente acontecem comigo, um minúsculo “Barbudo” resolveu se suicidar diante do maior anzol da minha vara de pescar.
Imediatamente Dudu gritou do lado Oeste:
- Léo, guarde esse infeliz para virar isca na minha vara!
Pegou o bicho ainda vivo, iscou e mandou para o mar. Enquanto isso, seu pai, Mário, pegava o primeiro peixe raro daquele sábado: "Lagocephalus laevigatus". Logo depois pegou outro e quando a gente menos esperava a vara de Dudu dobrou-se mais do que as dos nossos coleguinhas do Azulão.
Quase foi ao chão. Um horror! Correu todo mundo em direção a ele e haja luta. O peixe puxava para o mar, ele puxava para terra. Lucina disse:
- Será que é o mesmo peixe que quase leva Léo para o alto mar?
Aí Dudu correu para perto das ondas. Mário gritou:
- Meu filho, tenha paciência!
- Traga um cigarro acesso, papai. Ele respondeu.
Lucina não se continha enquanto nos servia cerveja:
- Dudu puxe logo esse peixe que somente tem três latinhas de cerveja!
Finalmente a Raia apareceu. Comemos a bichinha na Barra Pequena, cozinhada por Mário Henrique. Era tão grande que alimentou mais de 15 pessoas.
Uma beleza!
Eu juro!
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