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domingo, 2 de dezembro de 2012

O ÓDIO QUE APRISIONA E O PERDÃO QUE LIBERTA


Por Flávio Rezende*

         Como dou muitas entrevistas em decorrência de atividades sociais, culturais e outros babados mais, geralmente sou instado a falar algo sobre a religião que sigo.
         Nunca me senti bem repetindo as mesmas coisas, desde cedo fiquei incomodado com a ritualística católica. As missas sempre iguais, a sequência já previamente sabida dos acontecimentos, me impulsionaram para o novo, buscando assim o conhecimento espiritual através das coisas da Índia.
         Ainda nesta seara religiosa comecei a não gostar mais de ficar entoando mantras por horas e horas e de repetir diariamente rituais hindus e outras coisas mais.
         Por não conseguir aquietar a mente em eventos muito iguais, porem importantes - faço questão de registrar, fui montando um mosaico, tornando o que chamo a minha religião, de uma coisinha de um aqui, outra de outro ali, utilizando como intercessão a todas as ações encampadas, o ato de praticar o bem.
         Do querido Buda captei a afirmação de que a origem de todos os males é o nosso eterno desejar. De Sai Baba a importância de desenvolver de maneira concreta e real as práticas caritativas e o despertar verdadeiro dos valores humanos.
         O espiritismo responde de maneira mais cabal quase todas as questões que temos, além de não ser monótono, posto que os palestrantes se revezam nos centros, iluminando áreas escuras e jogando luz em setores até então mergulhados na ignorância.
         Do mestre Jesus, reverenciado de maneira muito positiva e respeitosa nos círculos místicos, incorporei a lição do perdão. Como vivemos num planeta onde as relações humanas são muito conflituosas, onde a inveja, o egoísmo e a maldade estão muito presentes, é bastante comum que as pessoas sintam ódio uma das outras.
         Só para exemplificar como o ódio e a falta de perdão nos animalizam e tornam vários momentos de nossas vidas chatos e negativos, relato que tempos atrás, encontrei com uma pessoa que era muito amiga, sempre me elogiava, fazia questão de me chamar e, na frente das amigas, tecia loas e boas, inundando meu ego dos mais bonitos e adjetivados palavreados.
         Certo dia passei pela mesma e, ao contrário do sorriso escancarado, o abraço e o elogio sempre fartos, estava séria e carrancuda. Como sempre fiz tornei meu corpo mais próximo ao seu e, sorrindo, perguntei como ela estava. A resposta veio imediata e crua, pedindo para que eu não dirigisse mais a palavra a ela.
         Forçando a barra descobri que o motivo do seu ódio era a não inclusão de uma poesia de sua autoria no livro do bem, que edito em prol da Casa do Bem, recolhendo contribuições espontâneas de várias pessoas.
         Expliquei a mesma que não tinha recebido tal poesia, que já tinha colocado trabalhos dela nos livros anteriores, que não exercia papel de censor, que albergava todo o material enviado pelos colaboradores, não existindo nenhuma razão para deixar fora o material que ela jurou ter enviado.
         Apesar de todas as explicações, de um pedido formal de perdão por uma coisa que nem culpa tinha, ela, desde esse tempo, nunca voltou a sorrir e, quando percebo que me olha, sempre vira a cara, retrai a expressão e espalha pelo éter planetário o seu ódio sem pé e sem cabeça.
         Ver tal figura hoje em dia, ao contrário de todo um passado memorável, me remete a um instante de vacilo, de queda de harmonia pessoal, como que sentindo a forte negatividade que exala por algo tão fútil e infantil.
         Como realmente não recebi o poema, só posso creditar o ódio desta poetiza raivosa, a um quê de inveja ou algo parecido, desejando a mesma, que vive nas missas da vida, uma orelha mais aberta ao sermão dos padres e, uma leitura mais atenta do seu mestre, o grande Jesus, que sabendo ser o ódio um grande peso na vida de qualquer um, não escondia de ninguém a necessidade de retirá-lo do coração e da vida, tornando mais leve e suave o existir de todos nós, através da prática do perdão.
         De minha parte as portas vão estar sempre abertas, não vejo a hora dela me abraçar, soterrando de vez este lamentável tempo de carrancas, para que possamos juntos festejar, sorrir e amar, além de claro, poetizar a existência sob o signo do perdão, ouro, incenso e mirra do admirável e sempre atual, JESUS.

·        * É escritor, jornalista e ativista social em Natal/RN (escritorflaviorezende@gmail.com)

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