Espaço jornalístico dedicado à política e notícias diversas da Grande Natal
domingo, 27 de janeiro de 2013
E PRA ONDE VÃO OS NÃO SELECIONADOS?
Públio José – jornalista
(publiojose@gmail.com)
O ser humano é, por natureza, seletivo. Seleciona amizades, relacionamentos, profissão, local de morada, de trabalho, bebidas, comidas, livros, filmes e uma série infindável dos mais variados itens que compõem o universo humano. E, da mesma forma que age seletivamente no campo racional, o homem é levado biologicamente a permanecer na esfera seletiva quando suas ações envolvem escolhas de natureza sensitiva, metafísica, espiritual. O olfato é seletivo, o tato também – como também o são todos os demais sentidos. Em vista disso, seria mais do que lógico gestar-se, no âmbito dos elementos que circunscrevem o homem, uma cultura correspondente. E isso realmente acontece, com a seletividade invadindo os terrenos mais díspares e celebrando os objetivos igualmente os mais variados. E aí (afinal, ninguém é de ferro) os limites extrapolam e os absurdos se fazem presentes, atingindo o inimaginável.
Hitler, por exemplo, praticou a seletividade na população alemã a grau extremo, querendo, com isso, atingir a expressão maior da pureza ariana, um sonho louco que outros loucos infelizmente apoiaram. Franco, na Espanha, à mesma época, exercitou a seletividade político/ideológica torrando, no campo do conflito armado, quem não se enquadrava nos seus devaneios ditatoriais. Stalin, um pouco depois, também se aprofundou na seara da seletividade, matando, a torto e a direito, aqueles que não se encaixavam no perfil que escolhera. Chegou, inclusive, a fazer seleção além mar, ao fincar, através de um fanático militante, uma machadinha na cabeça do camarada Trotsky. Como se vê, a prática da seletividade entregue ao livre arbítrio do homem consegue tisnar de negro a história em todos os quadrantes. (Embora, no que toca à Ciência, o selecionar tenha contabilizado enormes benefícios).
Mas não fiquemos somente ao lado de tais figuras. Aliás, bizarras figuras. Busquemos facetas mais amenas do ato de selecionar. Encontraremos? Dia desses, vendo um comercial de TV, tive a curiosidade despertada por um chavão que impregna a atividade publicitária e que quer nos fazer de idiotas. Em meio a imagens belíssimas de uma área gramada, (era um comercial de vinho), em idílico cenário, o locutor informa que o produto era resultado de um rigoroso processo de seleção de uvas. Fiquei a imaginar, então, a enorme quantidade de uvas lançadas fora após a seleção. Montanhas e montanhas delas certamente. Mais adiante, em anúncio de carne de frango, outro locutor comunica que a fábrica coloca no mercado frangos “rigorosamente selecionados”. E os não selecionados onde vão parar? O mesmo acontece com perfumes, leite, cervejas, roupas, produtos de beleza...
Faço um exercício mental e não consigo enxergar onde se encontra o resultado dessa gigantesca operação seletiva. Jogaram no mar? Distribuíram entre os pobres? O negócio começa a ficar complicado quando o processe envolve gente. Porque, entre frangos, uvas, roupas e que tais, sou “trabalhado” por outra empresa, cujo apresentador afirma, professoralmente, que o seu quadro funcional é resultado de uma “rigorosa política de seleção de recursos humanos”. Daí ser o seu produto o melhor, o maior, etc, etc, etc. E agora? Se em um processo seletivo apenas uma pequenina parte de um todo é escolhida, o que será feito da parcela sobrante? Em se tratando de mercadorias ainda dá pra amontoar o que restou da seleção em algum lugar. Ou, no mínimo, esperar que compradores menos exigentes adquiram o restolho. Mas com pessoas, com seres humanos, como se faz? É bronca! Alguma sugestão?
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