Alex Gurgel*
Essa é a Copa das imagens. De acordo com estatísticas da própria Fifa, circulou mais de três milhões de fotografias somente nas redes sociais, na primeira fase do mundial. O famigerado “selfie” – autorretrato no bom Português – se tornou febre em todos os níveis, de chefe de estado, torcedores, jornalistas e jogadores também, que usam seus smartphoes para projetar as imagens.
Fotógrafos do mundo inteiro apontaram suas câmeras para tudo que aconteceu dentro das Arenas esportivas, onde jogadores fizeram poses na hora do gol e os torcedores vêm fantasiados das figuras folclóricas dos seus países para chamar a atenção das lentes dos fotógrafos. Há também a estonteante beleza das “musas da arquibancada”, lindas mulheres das mais diversas etnias.
As grandes lentes brancas são da Canon, que parecem se espalhar em torno do campo. As lentes pretas são das outras marcas como Nikon e Sigma. Todas são teleobjetivas muito claras, com abertura média de 2.8 e com distância focal de 300 mm em diante. É necessário um monopé para apoiar a câmera e a lente, que pesam mais de 5 kilos as duas juntas. Quando o fotógrafo quer fazer uma foto na vertical, o corpo se movimenta e a lenta fica parada no monopé.
Para os fotógrafos credenciados ficar no melhor lugar do campo, eles têm que chegar mais cedo no Centro de Imprensa e “pegar uma ficha” para os melhores lugares. Os últimos ficam com os lugares mais inóspitos para fotografar, dentro do campo ou próximo a Tribuna de Imprensa, nas arquibancadas. No campo, o fotógrafo já foi pré-determinado para as laterais do gramado ou atrás das traves, espremidos entre os demais.
Copa em Natal
Na Capital Potiguar, a “musa” dos fotógrafos foi a Arena das Dunas, iluminada em dias de jogos, ao sabor do pôr-do-sol. Poucos fotógrafos locais conseguiram a credencial da Fifa para fazer a cobertura foto-jornalística da Copa do Mundo em Natal. Um dos principais fotojornalista potiguar, Canindé Soares, ficou de fora durante o mundial. Mesmo sendo o fotógrafo que acompanhou toda a trajetória do estádio, desde a demolição do antigo Machadão até a inauguração da nova Arena das Dunas.
As pessoas que foram assistir aos jogos na Arena das Dunas também fizeram selfies adoidado e colocaram as imagens nas redes sociais. A Fifa Fan Fest, realizada na Praia do Forte, também atraiu muitos fotógrafos que foram registrar a festa entre os estrangeiros e os natalense, numa confraternização única que somente uma Copa do Mundo poderia proporcionar. O pior dia para os fotógrafos foi durante o jogo México e Camarões, que caiu uma chuva torrencial em Natal, molhando equipamentos e prejudicando a narrativa visual da partida.
As Câmeras e a foto do jogo
Os fotógrafos sempre carregam duas câmeras: uma equipada com uma objetiva grande-angular, para usar quando a jogada acontece próximo à ele; e a outra câmera com uma teleobjetiva, que ele vai buscar as cenas em qualquer lugar do campo. Quando acontece um lnace próximo ao fotógrafo, não dá tempo de trocar as lentes. O fotógrafo assiste aos jogos pelo visor de sua câmera para não perder um só lance.
Cada fotógrafo fez, em média, 1.200 imagens por jogo. Como a quantidade aproximada de fotógrafos por jogo era 150, cada partida chegou a ter 180 mil registros, só na primeira fase. Alguns fotógrafos instalam câmeras atrás da trave, com objetivas grande-angulares de 10 mm e claras, sendo disparada por controle remoto ou por cabos.
No final do jogo, fotos que conta toda a história da partida não é, necessariamente, a foto do gol que vai para a primeira página do jornal. Pode ser uma imagem comemorando um gol ou a dor de um jogador atacante, depois de um choque com um zagueiro feroz que defende sua pátria. Ou mesmo o choro dos torcedores que voltaram para casa mais cedo, sem o sonho de conquistar o mundo do futebol e sair bem na foto.
* Alex Gurgel é fotógrafo, professor de fotografia, mestrando em Antropologia Visual e presidente da Associação Potiguar de Fotografia.
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