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sábado, 29 de março de 2014

Que noite é essa!











Walter Medeiros
waltermedeiros@supercabo.com.br

A Revolução nos moldes propostos por Marx, Lenin, Engels, Stalin e
outros pensadores é algo que pode tornar-se realidade algum dia, desde
que sejam criadas as condições objetivas para a sua realização.  Nesse
sentido, não adianta ser general, marechal, civil, doutor, pós-doutor
ou operário para negar ou admitir a marcha das sociedades e da
humanidade nesse rumo. Pois existem fatores que nenhum daqueles
pensadores previu e certamente nos dias de hoje eles teriam opiniões
importantes a expor.  Até porque, ao que parece, as orientações que
deram parece ter sido mescladas de atitudes que desvirtuam as
propostas revolucionárias. Para saber quais seriam essas atitudes, no
entanto, é preciso debruçar-se sobre suas obras e observar o que está
sintonizado ou não com os discursos socialistas e comunistas dos dias
atuais.

Esta reflexão surge quando vemos o Brasil de 2014, cinquenta anos
depois do Brasil de 1964, reunir entre 500 e mil pessoas numa Marcha
da Família com Deus, manifestação que naquele passado aflitivo reuniu
entre 200 mil e 500 mil, dependendo de quem calculou em cada época. A
realização desse evento é algo que considero estranho, triste,
lamentável, uma comprovação de que parte dos brasileiros passaram a
viver numa democracia sem saber bem o que fazer com ela. Isto era algo
temido no tempo em que se lutava pelo fim do regime militar, de triste
memória, mas cujas bases devem ser sempre lembradas para que nunca
mais se repita.

Esta abordagem poderá ser vista como uma espécie de desabafo de quem
viveu e sentiu nessa vida todos os malefícios e apreensões que a
ditadura provocou nos brasileiros politizados. Até porque venho de um
tempo em que se primava pela honestidade e legalidade, porém com base
em legitimidade das normas e instituições. Pode ter-me faltado alguma
malícia, mas disso não me arrependo, pois mesmo que pareça ingênuo,
ainda acho que até em jogo deve-se lealdade e respeito aos adversários
e às regras. Porém sei também que na revolução a coisa é outra. E para
se ter uma noção do que foi o regime militar, temos o exemplo
emblemático do deputado militar Jair Bolsonaro, que em 2013 juntou
umas quatro pessoas para defender a volta dos militares e hoje deve
estar emocionado depois de ver centenas de pessoas ao seu lado. Mas
cabe ao povo brasileiro ter sabedoria para enxergar que o caminho não
é esse da famigerada marcha.

O Brasil não pode pensar em se perder em nova noite escura do terror
do AI-5; da cassação de mandatos, de tamanha truculência, ilegalidade,
exceção e força; da censura, método medieval de submeter a
inteligência ao vulgo e à força; da Lei de Segurança Nacional, que nos
retirou os direitos e a cidadania, pois nem habeas-corpus era direito
do cidadão; do Exílio, pois lugar de brasileiro é no Brasil, se assim
o quiser; da Tortura, algo que preocupa mais ainda nos dias de hoje,
pela banalização das ocorrências policiais;  da Lei de Imprensa, pois
a responsabilidade pelo que escreve deve ser de cada um; do Decreto
477, pelo qual os estudantes sentiram na pele o que era cerceamento da
voz e da manifestação do pensamento. Diante de todas essas coisas
horripilantes, que criaram uma realidade de liberdades tolhidas, nada
justifica um novo regime militar.

Entretanto, o povo brasileiro extravasa seus anseios nas ruas e a cada
dia torna-se mais inadiável uma mudança de postura dos políticos para
sintonizar seus discursos com a realidade. O povo quer verdade,
transparência, honestidade, justiça e cidadania plena. É hora,
portanto, de abandonar subterfúgios, engodos e corrupção, para que o
chamado jeitinho brasileiro tenha realmente seus dias contados. O
custo é grande e o povo quem paga a conta. Daí a necessidade de
empregar com eficácia os recursos da nação e fazer por onde os desvios
sejam extirpados. Para isto, aliás, cada cidadão precisa também fazer
a sua parte. As ruas mandam um recado de mudança e é preciso que os
políticos e demais responsáveis pela condução da vida pública entendam
esse recado não como um episódio qualquer, mas uma mostra de que o
Brasil precisa dar um salto para viver um novo dia.

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